quarta-feira, julho 15, 2015

Não existe poema impossível de ser musicado. Existe poema que exige a (re)invenção de tudo o que aceitamos como música - seja pela ótica ocidental e seu chatíssimo sistema tonal tradicional, seja pelas lombras interessantíssimas dos microtons orientais, seja pela vibe absolutamente atordoante dos batuques e loas mais tribais, seja pela arquitetura fabulosa e ao mesmo tempo aprisionante da tradição erudita européia, seja pelas dissonâncias e cacoetes do jazz, seja pela pulsação envolvente do reggae, seja pelas rupturas e aventuras e irritações guturais do rock, seja pela ousadia morna da música de vanguarda (favor não rir dessa palavrinha ligeira), seja pelo velho bolerão tocando para os corneados do bar da esquina e seja assim por diante... - pois creio com muita força na música que naturalmente possui todo poema. Posso ouvi-la no fonema depois na palavra depois no verso e assim até chegar a toda a estrutura e aos próprios campos semânticos, às relações todas de sentido formando os contrapontos e as harmonias vocais, os arranjos que vão vestindo o que está sendo dito nas linhas. Desse jeito chegaremos logo à - parece-me que - irônica conclusão:Não existe poema impossível de ser musicado. Existe poema impossível de ser tocado?
                                                                    
                                                                                  Jonatas Onofre

Nenhum comentário:

Postar um comentário