segunda-feira, setembro 21, 2015

select character: axel/blaze

what a wicked game to play:
esse jeito de viver em guerra

com o protetor solar, essa mania
escolar de não trocar as roupas;

somos os inglórios do comitê
revolucionário ultrajovem e

temos gemido com o ímpeto
de ringtones polifônicos,

caçado níqueis e pidgeottos
em atlantic city e cozinhado

nazi scalps ao modo de
shoshanna. — theat me like

your pet shop boys, draw me
like one of your suicide girls —

o taco ao alcance do jackpot,
joelhos posicionados para o

home-run. tuas coxas revestidas
de látex no escurinho do cinema,

nosso sangue vermelho-groselha
escoa gratuito na tela do continue.

som & fúria catalisados em objetos
cortantes e conversações libidinosas:

a poem by
quentin tarantino.

Camillo José

domingo, setembro 20, 2015

O rosto de benedita vincado, vincado de rugas tão belas. que benedita ainda é moça. apesar de mãe, vó, bisa. oitent'anos de mocidade sob o lenço. assim ela consola os cabelos. mais que de prata eles são. à vista. só os poucos que se derramam do tecido grosso. sem estampas. os olhos, os olhos de benedita olham sim. e sempre a parte de mais incêndio em qualquer corpo. é um corpo pouco. o dela. pequenas. roupas alvas. ariadas em pedra de rio. a boca de benedita murcha, murcha é também uma flor tão luminosa. sabe-se que agora não se lamenta pelos dentes. pela ausência de qualquer coisa. que tudo o que resta já guarda como dádiva. a essa altura não há razão de lixo na vida. nunca houve pronúncia de luxo. nem de temor da loucura. os sãos oprimem com ferrões e lucidez. ela prefere o barro. as mãos mudando a cor debaixo de chuva. as veias regidas por outra maneira de desembestar o coração. viver mais do que sempre. o exercício amanhecido de gargalhar nas encruzilhadas. uma vila inteira não ouvindo a voz. a voz de benedita. dobrando esquinas. subindo telhados. revirando folhas nos quintais. benedita moça de novo. moça sempre. dia após era. era após hora. família vivendo as lonjuras de ser família. dos cuidados. dos medos. qualquer dia uma queda. um coração espocando na ladeira. uma cabeça partida em cacos de argila. e o corpo como aquele pote que a menina benedita estirava no chão de terra batida de mãe. tempo que não se sabe o quanto tem de ontem. de agora. o corpo como pote fica no chão todo manso em ser coisa quebrada. o é. chão cicatrizado de tanto passo de gente e bicho. Benedita morre não. sabe. volta a ser mais que pó. mais que barro. mais que estátua na praça. pequena entre casas de taipa. as mãos de benedita cálidas, cálidas franzindo as roupas do noivo. moço agora. como ela. desenterrado do canteiro lateral do cemitério. o juízo de benedita dizem. perdido. um dia ela voltando do rio e já nas costelas trazia aquela risada. ninguém devia espantar-se com isso. filhos e filhas. todos só precisam louvar seus longos cabelos. os mistérios de sua pele toda escrevinhada. décadas e décadas. benedita pregando-se nua nos varais. benedita esquecendo a língua inútil dos homens. benedita morre não. sabe. ninguém nunca resiste a tal amor. Ninguém vive não. só se um dia sentar nu. abraçar o chão junto com ela. e pedir. vó benedita ensina que a gente aprende. ensina que a gente cansou de razão. ensina que agora a gente quer viver. viver vida mesmo. viver verdade.

Jonatas Onofre

sábado, setembro 19, 2015

trompe-l’œil

quando perdi a quarta namorada
ganhei um porquinho-da-índia
da professora de morfossintaxe.
[que dor no coração me dava]
perdi o trem para green hill,
a vontade de salvar a cidade
de townsville, as partituras
de ocarina e o apreço por rick
astley. eu simulava honey-
moons, escrevia fanfics, o
convidava para double
dates. ele não revidava.
preferia dormir entre o
cooler e os slots de memória
a roer as fronteiras da cama,
não fazia caso nenhum de
minhas sodomias e literaturas.

— o meu porquinho-da-índia
foi minha primeira dakimakura.

Camillo José

sexta-feira, setembro 18, 2015

Praga & Paga

Em breve ele será apenas o pó que veste o corpo e nada mais terá a dizer afinal tudo se despede e o cadáver grávido de amanhã não nos interessa.coragem é pensar e não mentir ao menos para si quando tudo que é chão trai e o espelho cheio de sarcasmo chama pra conversar e não te responde mais. é o que ele pensa. a mais arrogante ingenuidade. sua crença cairá no último fio de cabelo como uma praga purgando suas dívidas. todas. para que assim aprenda como nunca. e ao sussurrar no espaço aéreo de uma overdose: perdoei-me. engendre apenas a pronúncia de uma conjugação obsoleta incrustada no mais remoto de seu passado. como um trauma de infância. um crime inconfessável. uma perversão engolida no sêmen de cada noite. patético. só agora percebe: não sabe mais dizer amém, amem. talvez achar que sabia tenha sido sua maior ilusão. dentre todas. todas. favor não ter pena dele. não é necessário. na vida real esse tipo de depoimento classifica-se como melodrama barato. não se meta medo. não se meta nisso. o que se pode fazer. azar? o nosso que nunca. acho que significa até uma espécie de sorte pra ele. sim. uma sorte como uma navalha, uma gravata, um vidro todo de calmantes na hora exata em que a fuga solicita. exige. sabe o que é? é o que vale: nada de esquecer nossos umbigos. não serve. ele só sacou como a coisa toda caminha. só isso. deixe-o às voltas com suas próprias mãos. ninguém precisa se sujar além daquele balde de lama que recebeu ao nascer para equilibrar sobre a cabeça e com o qual deve se desdobrar até o último tropeço. o que podemos pensar? nele? já disse que não vale nossa pena. resolve-se antes de nós, inclusive. e para nossa inveja silenciosa, despeitada, escondida sob o falso espanto e a piedosa reprovação. ele saberá extraviar-se. é a coisa. a única que a gente nunca desaprende. parece até que sempre começamos de um jeito diferente para encerrar assim. mas não vou falar de certezas. tenho medo. digo que parece. basta. ele começou assim: dizendo o que era. o que não era. conversas de crer. vê. é possível? quero rir. muito. não dá pra ser menino toda vida. entre a praga e a paga esperto é quem sai de cobrador. trate de sufocar qualquer misericórdia. piedade é para quem tem ganas de se jogar das alturas esperando asas. talvez anjos. sendo que o tesão está em pisar bem essa terra estuprada. abraçar o corpanzil suculento de nossa crueldade. ser gente como gente de fato deve ser. chaga e imundície. famintos por desgraças. saiba que já se foi o tempo de serventia dos heróis. e falando em tempo. esse que é nosso não passa de uma grande porcaria esvaindo-se como um vazamento de privada. entende agora? nada mais que fezes. não pense mais nele. certo? em breve será apenas o pó que veste o corpo e nada mais terá a dizer. você tem que se conformar. Não? Nunca? Aí sim o azar passa a ser teu também. E eu não quero fazer nada. Eu só estou aqui para cobrar.

Jonatas Onofre

quinta-feira, setembro 17, 2015

blackout melody
eu e
tu, rest-
às escur-
as
regg-
aí o sangue,
a vontade let's
play, let's
play
bá-
lãs-
se quis-
erre-
se-
nã-
um-
as-
ó se-
hahahaha o laps-
ó:
deixam-
eu
tex-
tí-
cu-
lo-
te-
ca-
í-
r
no br-
eu
do br-
às
do br-
é-
shô-
w

   Jonatas Onofre

quarta-feira, setembro 16, 2015

Água & Vinho
Desde cedo os utensílios me ensinaram
a maneira mais serena de ser cruel
Antes mesmo de você abrir o espaço que
nunca houve entre minhas costelas
Confesso que relutei enquanto guardava
minhas mãos em algum bolso falso
O melhor que se pode aprender neste resto
de mundo é como esquecer a piedade
Não o jeito mais discreto de esconder as
unhas cheias de terra e açafrão
Quando parece que é só a melodia leve de
um piano e quase queremos sorrir
É bem nesse instante que se deve procurar
alguém para purgar nossas faltas
Fazer de olhos abertos o que nunca se faz
nem com o devedor mais maldito
Estamos aqui para nos ferir pelos séculos
mesmo quando não for possível
Então todas as vezes que estivermos perto
de sarar passaremos brasas ali
Assim como não deixarei minha mania de rir
um pouco antes da quase morrer
Eu sou mesmo cruel para além de minha voz
e da pouca força nos joelhos
Algo passa pela cabeça como fumaça ou pó
não posso saber de uma coisa
Me vejo naquele copo de água tão frágil
que você despeja num mar vermelho
                                 Jonatas Onofre

terça-feira, setembro 15, 2015

Falava com pouca decência em mãos
mesmo buscando vogais com esses lábios ressecados
só as peles descascadas de seu rosto faziam-se voz mapiando o destino:

Imaginem os sem-calcanhares
imaginem a tumba dos santos saqueados no terraço
esses são nossos filhos
e até aqui ninguém nos ajudou.

                      Carlos Nascimento

segunda-feira, setembro 14, 2015

the new, ei Gil
vê bem, frá-
gil
eu tenho sede
sim
o mundo segue-
se-
indo des-
igual
cru-
el paz-
so-
la paz-
so yo trôp-
ego e
la cara
lavada em leve-
dura
esperando-
a
deixa-
a
cauda des-
sa ser-
eia
dessa sor-
te
que a vida
não
permite-se-
r não
outra coisa
nunca:
a gente jantando-
a inteira,
no que pare-
ser uma ba-
leia
e é
só tamanho
da
fome
total-
i-
otária

          Jonatas Onofre

quinta-feira, setembro 10, 2015

Ver o dia

esteja nesta casa para ouvir os restos de alguém
sem falar em perguntas
perfure seus poros
veja
hoje é sábado
suas pernas descansam 
e
mesmo escassas 
nenhuma calçada desiste de sua rua

              Carlos Nascimento




quarta-feira, setembro 02, 2015

[defeitos da drug-
íman 15]

- com
os dedos
nos bolsos
falsos -



típic
-o blood-
ígneo do poet
"a"
deve con
star
nos cr
éditos

- alguém m
ostra o com
ínício das
escadas -

seu cr
hímen deve
ser em flo
res art
office
(A.rt
ific
I.al ins
emination
S)

- difícil é
ler, nisto -

"A", lã
min
ímãn, deve
ser levado
na mão,
a idéia
nunca, na
cabeça

- neste e
difício -

São
permit
idos
trucks
perform
(nus)
áticos

- os últimos
andares serão
os primeiros
a virar escombros -

"A", o fim
vai se l
ograr
pela jam
nela
nem aí para
o f
acto
de ser
em
terminante
mente
vetad
os
des
locamentos
temporais o
u geo
gráficos
" morte, vela, sentinela sou
do corpo desse meu irmão
que já se vai
revejo nessa hora tudo

o que ocorreu

memória não morrerá..."

Sentinela, de Fernando Brant e Milton Nascimento, por Jonatas Onofre:

              https://soundcloud.com/jonatas-onofre/sentinela-ao-vivo

terça-feira, setembro 01, 2015

Trapdoor to Rave
examinem as avarias no meu fígado,
mas só amanhã. agora podem viver a
trip de Alzeimer [chuvisca numa te-
la analógica e nenhum de nós pode
voltar aos sete anos ou ao primei-
ro nó de línguas] eu quero chupar
o encéfalo grilado dessa Dj-genera-
tion. ou acredito muito em tudo is-
so que parece passar pela gente.mas
nem pode ser mesmo verdade um beijo,
um atrito entre nossos púbis, algum
corpo mais estranho que um copo es-
migalhando-se na tua tatu-traquéia.
[nunca deveriam ter me acordado tão
cedo, a essas horas eu nunca tenho
bons instintos] dançar para que o
holograma de nietzsche nos acenda
buquês de velas vermelhas na encruz-
ilha dadá [eu sei que todos os poets-
tars querem a escritura do cabaret
do voltaire] qualquer dia ainda vou
encher seus mictórios com a areia pro-
duzida na minha bexiga de gás élio.
pensar como se a comissão julgadora
do apocalipse estivesse de recesso
ou prestes a cometer suicídio. aqui
uma informação que pode ser importan-
te: a palavra arrebol nunca ferveu
no meu esperma.[isso é um simulador
de cabeça em curto-circo-icto quando
alguém ainda acredita no ritmo papa-
pai-madre-never-marijuana de um sonet-
otário] aí a gente começa uma festa
no lado mais bad de um satélite ingl-
ês e nem se importa com a precarieda-
de dos jogos de luz. quantas vezes vc
já se perguntou: "em que recôndito a
mulher que eu ainda quero está escon-
dendo as mãos agora?" sorria se ainda
quiser ser uma reprise afundando-se na
tarde de um domingo. esqueço numa gave-
ta todas as vezes em que não respondi
à altura com essa boca bem mais lasci-
va pairando sobre meu uniforme de anjo.
mas esta é a hora de pular com os dois
pés sobre os pedais de destruição. ver
o desespero de quem não sabe a serventia
dos alçapões e acha - mesmo - que é pos-
sível entrar na rave só pressionando-se
para cima. gozar sem as mãos no rosto
mais atônito dessa década [para ser a
obra-prima em HD de um cinegrafista ama-
dor] por sofrermos todos de imperícia e
nunca sabermos a diferença entre transe e
transa até que tenhamos danificado alguma
peça e ninguém mais consiga consertar.
                           Jonatas Onofre