terça-feira, novembro 10, 2015

samara


há um e-mail que me chega por engano
15:46 da última quarta-feira do mês
sei bem, a criança que morre no arame farpado
não sorri, ou sorri
se nunca tivesse
sorrido antes na vida
tudo sempre numa curva
as pontas dos dedos cansadas
de escavar a própria carne a procura
do mel, do sal da boca, da conserva, do gosto amargo da primavera
enquanto se corta e contorce, em meio ao capim
a coceira, ela pensa ainda
nas freiadas bruscas da bicicleta
pra levantar o pneu traseiro
e pensa no mar, no que é vasto
no passei de barco no próximo verão
enquanto há ar, há um próximo verão
e bate os pezinhos chatos no chão e grita, tentando
se livrar, a última palavra que aprendeu em
grupos de três, é tétrico tétrico tétrico
pausa, o verão, o sal, o mel, e a limpeza
da caixa de entrada



                         Guilherme Conde

sábado, novembro 07, 2015

[rexistir a que será que se desatina?]

pois quando
tu não me
empenhaste

a vulva
estricnina
vi que não eras
parecias


[rexistir
a que será
que se
calcina?]

assumo tudo
onde nada
assina

e a vida nunca
e a dor

ensina.

[rexistir
a que será
que será
que ser
à que
andam
mentindo
atrás de
mim?]

           Jonatas Onofre

quinta-feira, novembro 05, 2015

3. i want to be with you on doomsday

essa
fome:

arma em-
briológica

telegrama
militar

insípido
caractere

silêncio
bifronte

cardíaco
talismã

beijo sem
mitologia

obtuso
objeto

de ferir
ovários

anônima
assinatura

atômica
aparição.

          Camillo José

segunda-feira, novembro 02, 2015

Calar o silêncio

quero que este filme esteja entre nós
quando minha voz for saqueada

estarei contando frases no céu
e, se restar algo, devolverei meu perfume
a alguém que me olha num canto da sala.

                     Carlos Nascimento