quinta-feira, julho 30, 2015

mas encontraría a la maga?
era verão em montevidéu
e apesar da inquisição você
desfilava impávida sobre o mar
morto com a minha cabeça
amarrada à proa do navio.
não te bastava controlar a
loucura dos homens e o curso
das marés, você queria vingar
o nome de suas irmãs, aniquilar
a população da ilha de manhattan
com um taco de basebol. pole
dance em mastros de alta
voltagem, tesoura humana
picotando adamantium.
arquejo de harpa, penacho
de harpia. ulysses te descreveria
com escamas, eu optava por
te situar em trajes metropolitanos
e me flagrava dando socos
cartesianos no ar, cantarolando
dont you forget about me e fingia
saber a movie song quando você
surgia entre as cortinas de fumaça
e sem maiores mitologias me beijava
heroica e oscilante como faziam
os lobisomens e as colegiais.

                         Camillo José

terça-feira, julho 28, 2015

Ode ao grampo
Efêmero
seria achar estranho
entender que o grampo
com séria perícia de metal e fábrica
possa não conferir
eterno fatal de efeito.

          Carlos Araújo

segunda-feira, julho 27, 2015

Sobre datas comemorativas e outras (in)utilidades*

Não é por hoje e toda essa mania de festa – e todo ridículo que possa habitar o culto às efemérides – mas resolvi dizer alguma coisa sobre o escritor. Entidade pairando sobre a face das águas ardentes de qualquer lugar fétido, figura se esgarçando na penumbra de um quarto, exilado, parece querer escapar de seu cubículo para enfrentar o incêndio dos holofotes. Vejo que é preciso abrir uma temporada de caça a esse estranho espécime que vem sofrendo grandes mutações, vem assumindo cada vez mais papéis que não lhe caem muito bem. Está na hora de enfiá-lo numa solitária e deixa-lo mofando lá. 

Que pague o preço sem reclamar e não queira fazer graça. É fácil ser louco depois de fumar um, aos pés de um totem de garrafas de uísque, com a língua dormente por tanto doce e travessura, quero ver pular com a cuca purinha, de cara lavada e provando todo medo de quebrar os dentes. Quero ver construir o texto experimentando o amargo do silêncio e do desprezo. Quero ver seguir com o mesmo estilo mesmo depois de escarrarem na boca berrando: “careta!”. Muita coisa pesa e pega em mim também: é estranho esse tempo em que o jeito de conversar com o leitor muda com a velocidade dos likes. Parece-me que há uma epidemia de preguiça grassando pelos terrenos cada vez menos reais de nossas convivências, uma preguiça irmã da conveniência e das fórmulas de sucesso: sim, o sucesso além de ser essa coisa indefinível (se houver o mínimo de vergonha na cara de quem quiser defini-lo) é também fácil... Ou seria mesmo fóssil? Nossa literatura tão novíssima já merece uma escavação arqueológica, muito embora exista poesia e prosa, mesmo quando sabemos que está muito bem trancafiada em alguma gaveta, ou nos recantos mais empoeirados de um sebo. 
Poderia perguntar onde se meteu a crítica literária e certamente se faria um silêncio embaraçoso. O que vale é ainda estar querendo briga num terreno tão pacífico de um lado (o lado de dentro do mercado, lugar das verdes pastagens, das taças cheias, das camas muito bem ocupadas, dos autorretratos na sacada) e tão violento do outro (o lado dos maltrapilhos, dos revoltados de fúria eriçada, dos que contam moeda pra comprar o papel de rascunho) e claro que não estou afirmando que a coisa chegou nesse ponto de maniqueísmo, muito longe de mim: eu desconsiderar as nuance perigosíssimas desse cenário. A coisa tá bem feia ao mesmo tempo em que ainda se faz alguma coisa e não se pode esquecer. O negócio é segurar nas idéias fixas, ser obsessivo mesmo. Fazer corpo mole é pedir pra ser engolido pelo agora faminto, leão que parece banguela... Mas deixa-o abrir a boca... Deixa pra tu veres...
                                                                              Jonatas Onofre

*Texto originalmente publicado em Nauvoadora - Revista Literária (http://nauvoadora.blogspot.com.br/).

domingo, julho 26, 2015

Água & Vinho

Desde cedo os utensílios me ensinaram
a maneira mais serena de ser cruel
Antes mesmo de você abrir o espaço que
nunca houve entre minhas costelas
Confesso que relutei enquanto guardava
minhas mãos em algum bolso falso
O melhor que se pode aprender neste resto
de mundo é como esquecer a piedade
Não o jeito mais discreto de esconder as
unhas cheias de terra e açafrão
Quando parece que é só a melodia leve de
um piano e quase queremos sorrir
É bem nesse instante que se deve procurar
alguém para purgar nossas faltas
Fazer de olhos abertos o que nunca se faz
nem com o devedor mais maldito
Estamos aqui para nos ferir pelos séculos
mesmo quando não for possível
Então todas as vezes que estivermos perto
de sarar passaremos brasas ali
Assim como não deixarei minha mania de rir
um pouco antes da quase morrer
Eu sou mesmo cruel para além de minha voz
e da pouca força nos joelhos
Algo passa pela cabeça como fumaça ou pó
não posso saber de uma coisa
Me vejo naquele copo de água tão frágil
que você despeja num mar vermelho

                           Jonatas Onofre

sábado, julho 25, 2015

Tem uma parede em minha porta. Quando a porta solta aquele leite de porta e incha, a extremidade do chão esbarra em seus lábios e ela grita, me chama. Chamado de Porta não se atende. Deixa... Porta parece com gente: fala, resmunga, mas ninguém atende.
                                                                     Carlos Nascimento

sexta-feira, julho 24, 2015





        Mais em:  https://soundcloud.com/proj-til-kamikaze/sets/proj-til-kamikaze


dead or alive
procure-o no beco da fome noir
e contrarie as previsões: encontre-o
com a cara entre as pernas da coroa,
encontrando-o no beco da fome noir
sente-se ao seu lado, acenda-lhe um
cigarro, tome uma dose de cuidado
então mate-o no beco da fome noir
mas só no fundo falso de um abraço
para que cegue pelas costas frias ou
capture-o no beco da fome noir
quando estiver tão confiante e solerte
a ponto de esquecer o risco que corre
a cada poema que escreve

                       Jonatas Onofre

quinta-feira, julho 23, 2015

Sonetar e coçar, eis a questão (soneto 5077)

De amigos escutei que alguém commenta
a minha posição na poesia,
dizendo que à exhaustão eu ja teria
levado o sonetismo. Gente attenta!

Procede essa attenção, mas, aos sessenta,
ainda não parei. Que eu gostaria
de ter levado, é claro! Quero, um dia,
dizer que o fiz, que nada se accrescenta.

Depois de alguns milhares, dez ou vinte,
talvez à conclusão chegar eu possa
de, emfim, tel-o exgottado, e com requincte...

Não creio que, comtudo, nesta grossa
e vasta producção, tal chance pinte.
Emquanto eu não morrer, mais um me coça.

                                           Glauco Mattoso


Obs.: Quaesquer textos assignados por Glauco Mattoso estarão em
desaccordo com a orthographia official, pois o auctor adoptou o systema
etymologico vigente desde a epocha classica até a decada de 1940.

quarta-feira, julho 22, 2015

Sabemos que te sei
Por isso não me olhes
com todos esses olhos
nem me beije com tantos
beijos assim
tu sabes também
Deixemos os carinhos para depois
Agora me abrace
pois o frio
neste momento
é meu maior inimigo. 

                Carlos Nascimento

sábado, julho 18, 2015

Distâncias

um após o outro,
todos os impérios, uma após a
outra, todas as guerras, tudo
o que não perturba o silêncio do
vácuo, tudo o que não será letra na
ausência de nome entre este poema,
escrito sobre as costelas de minha
morte, e a sobrancelha de uma mulher,
entre a mesma sobrancelha de uma
mulher e as explosões no umbigo de
um sol em transe, entre as pupilas
ardendo cheias de areia e as cisternas
turvando-se com todo nosso sangue,
entre um piscar de olhos e um piscar
de estrelas, alguns bilhões de vidas
se apagando,


                       Jonatas Onofre

sexta-feira, julho 17, 2015

Não é preciso tantas coisas
para se saber desse ruído
que me alarma quando
no ar
sinto teu suor ainda quente
passo a passo
silenciar meu sono.

             Carlos Nascimento

quinta-feira, julho 16, 2015

          Forma a todo vapor bem

        se instaura. Vê-se logo, o olho. Olho

                                        o poema,

        o trem, suas curvas.

        Tudo nali é nuvem, pesada. Quem

                   se atreve em frente

         vem coisa.

                       
                               Guilherme Delgado

quarta-feira, julho 15, 2015

Não existe poema impossível de ser musicado. Existe poema que exige a (re)invenção de tudo o que aceitamos como música - seja pela ótica ocidental e seu chatíssimo sistema tonal tradicional, seja pelas lombras interessantíssimas dos microtons orientais, seja pela vibe absolutamente atordoante dos batuques e loas mais tribais, seja pela arquitetura fabulosa e ao mesmo tempo aprisionante da tradição erudita européia, seja pelas dissonâncias e cacoetes do jazz, seja pela pulsação envolvente do reggae, seja pelas rupturas e aventuras e irritações guturais do rock, seja pela ousadia morna da música de vanguarda (favor não rir dessa palavrinha ligeira), seja pelo velho bolerão tocando para os corneados do bar da esquina e seja assim por diante... - pois creio com muita força na música que naturalmente possui todo poema. Posso ouvi-la no fonema depois na palavra depois no verso e assim até chegar a toda a estrutura e aos próprios campos semânticos, às relações todas de sentido formando os contrapontos e as harmonias vocais, os arranjos que vão vestindo o que está sendo dito nas linhas. Desse jeito chegaremos logo à - parece-me que - irônica conclusão:Não existe poema impossível de ser musicado. Existe poema impossível de ser tocado?
                                                                    
                                                                                  Jonatas Onofre

terça-feira, julho 14, 2015

Parece palavra,
quando de minha boca sai
rápida, junto com seu escudo
sonoro. E seria palavra, não
escondendo o verso, aquele
que não se encerra em ponto final
e escorre pela boca.
          
          Carlos Nascimento

segunda-feira, julho 13, 2015

                Tem olhar me abrange,
                bóli pelo específico
                método onírico 
                de quem morde a noite

                              Carlos Araújo
[para ana cristina césar]

a musa está cansada, seus
olhos de raio laser cegaram
de tédio e sua ossatura kitsch 
já não suporta outra pose.
desista das dedicatórias.
a musa quer dinamitar
o parnaso, tirar o sutiã
e passar a madrugada
na companhia de hot-
dogs e downloads ilegais.
não é por você que dobram
os sinos da musa, decote à
propósito nunca houve.
com ar de kawaii, você tenta
estacionar sua mistery machine
entre essas pernas de mármore,
improvisar uma jam session
com as melhores beatles songs
entretanto a musa te conhece
de scripts anteriores, ela sabe
o que você fez no poema passado.
mesmo assim, você permanece
conspirando sonetos, invocando
sua presença como quem insiste
em procurar um palheiro na agulha.
diga-me uma palavra única
diga-me que a literatura
a musa comprou headphones,
não espere que ela apareça.

                        Camillo José

domingo, julho 12, 2015

Ó voz do fogo:
furiosa dançarina.
Olhai em nós
que te escutamos 
tão atentos
e sorrimos
e choramos
tua dor azulada,
teu idioma de estalos
e enigmáticas figuras.
Ó voz do fogo:
nossa mais imunda
agonia
correndo pelas veias.
Olhai em nós.
Ó voz do fogo
ide à merda
desses dias e nos leve
consigo
no bojo de tua aparência
sã.
Não és pura,
és muito mais rouca,
rasgando pelas narinas
de uma divindade
atônita
a oração solitária.
Ó voz do fogo:
transmita-nos
o calor de teu pânico.
         
              Jonatas Onofre

sábado, julho 11, 2015

sexta-feira, julho 10, 2015

                   Carta ao Pai*

        Quando mais nova, meu pai,
           Bordaram-te em feridas
Disseram-me que tu não eras homem
               E eu nunca entendi
        Que homem não é homem?
                    Questionava
              Já que ferir por ferir
          É a nossa melhor arma
   Aquela que se faz desnecessário
                 Apertar o gatilho

                Agora mais velha
                     Olho pra ti
            Hoje bordam em mim
                Que sou homem
              Homem sapo de ti
               Já que ferir é ferir
       Sem que eu aperte o gatilho.

                      Débora Gil Pantaleão


*Do livro Se Eu Tivesse Alma (Ed. Cia do Ebook, 2015).
Mais em: http://www.ciadoebook.com.br/catalogo/se-eu-tivesse-alma

quinta-feira, julho 09, 2015

nódoa que se nega; esfrega, mas não lava.
tens a calma de quem investe contra uma 
gangue de nuvens munida da própria nudez
e carregas na geografia de teus arquipélagos 
o esboço original da igreja de são francisco.
unha galáctica inflamando a pele das horas,
pista de pouso para libélulas órfãs timbrada
em papel vegetal. eu profetizo teu umbigo anti-
aéreo atravessando o vale da sombra da morte
num balão de algodão-doce, teu retrato-falado
colado em portas de saloons e delegacias do
arizona, a musiquinha do elevador divulgando
tua chegada ao chefão da última fase. falas um
idioma de sonoridade úmida e me educas ao
design de teus mosaicos como uma abelha a
amamentar com melaço os favos do sol. és
mancha multiplicada de cegueira e delírio, gota
de suor caindo em loop na camisa-de-força de
um deus canhoto. escoltada por uma procissão
de arraias, me convocas para comer panquecas
na varanda do planeta e naufragar minha sintaxe
no teu mar de pixels. recuar soa inútil e a manhã
é um sorvete que evapora preguiçoso enquanto
redimensionas minha voz com a ponta dos pés.


                                           Camillo José

segunda-feira, julho 06, 2015

Podem me virar do avesso que não me viro, sou eu mesmo do avesso como do direito, e mesmo que me esquartejem e espalhem os pedaços continuarei sendo eu mesmo, como um caleidoscópio é um caleidoscópio e não um simples jogo de espelho, um caleidoscópio até que o matem por ter sido mais que um simples joguete, mais capaz de beleza do que quem o fez ou desfez.

Meu raciocínio lhes pertence mas não a minha consciência, podem me fazer girar como um pião mas é em torno de mim que eu giro, não em torno deles, este o meu sistema solar e desafio-os a arrancar-me o sol como podem fazer com o seu, eles que se julgam os donos de tudo e são os donos de nada, e se apavoram com o Nada de que vieram e a que estão sempre voltando. 

Enquanto eu puder pensar eu pensarei, lúcido ou não pouco me importa, e nem preciso de lucidez para lhes cuspir no rosto até o fim, basta-me apenas esta vontade de cuspir, esta ânsia e esta força incoercível, de que sou o único deus porque nasceu de mim e não deles: como lhes cuspo agora e até depois de morto - e mesmo já antes de haver nascido.

Não lhes tenho ódio mas desprezo, como nunca tive ódio à polícia ou aos donos da polícia, nem a todas as polícias do mundo reunidas, que apenas procuravam, e mal, imitar o exemplo vindo de cima, com as suas providências copiadas da Divina Providência, punindo os inocentes e sobretudo os culpados, os culpados de serem inocentes, como se punissem o canceroso e o animal de duas cabeças. 

Esta história de me plantar aqui como árvore, nesta ou em qualquer esquina, é para Eles o cúmulo da humilhação, quando os únicos humilhados serão eles mesmos, assim forçados a me manter nesta posição forçada, hora ou séculos seguidos, como se eu fosse uma presa muito mais importante do que sou, ou talvez então porque o seja, mortal porém imortal enquanto vivo. Como árvore lhes cuspo na cara do mesmo jeito, mesmo que me derrubem e sobretudo se me derrubam - e, enquanto não cuspo, posso ouvir nitidamente os pássaros que me procuram como árvore, embora Eles também tenham prendido os pássaros ou os transformado em pedras ou em prótons e elétrons. 

Espero pelo pior, mas já a esta altura o pior será apenas mais um motivo para eu lhes lançar meu testemunho no rosto, o meu testemunho e o meu cuspo, e não apenas em meu nome mas no de todos, desde que o homem foi inventado e com ele o câncer e a bomba atômica, a cadeira elétrica ou o amor não-correspondido. 

Uma árvore: a esses pândegos falta-lhes sequer imaginação!

Campos de Carvalho. A chuva imóvel. 2ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2008. Páginas 113-115. 

Mais em: https://mega.co.nz/#F!p0oCGI5B!geFILqRgVB8ceEGHKs_5yg



domingo, julho 05, 2015

Estive sondando pedras:
Batendo em suas portas;
olhando pelas brechas.
Ô de casa! Alguém aí?
Algumas me atenderam:
Quer um café? Sim. Depois
de sentarmos, contaram algo
sobre as areias, caramujos,
e que dói parecer com paredes.
Paredes não são nada, não;
mas dói parecer com paredes,

Disseram. 

            Carlos Nascimento

sábado, julho 04, 2015

Do processo em cria
Entre o homem e a poesia percorre a contramão das vias. No desatino da palavra se arrepara um conluio.
O olho não se retrai ao julgamento dos cílios.
Fixar todo em pensativo equaciona o processo quando em seu covil um arsenal se instala.
Carlos Araújo

quinta-feira, julho 02, 2015

Preço

Há algo de terrível em permanecer escrevendo. A não-permanência. Não sua, dos outros. Demora, demora muito pra você se acostumar (ou se embrutecer, que é mais conveniente). É assim: você escreve e alguém também escreve; este alguém conhece mais outrem que também manja dos paranauês. Naturalmente vai rolar uma empatia. Mas aí vem a vida e grita: trouxas! Claro, a vida é sagaz. Não chega arregaçando assim.
Ela te chama pra fazer vestibular. Pra fila do primeiro emprego. Pra tirar a carteira de motorista. Pra arrumar um emprego melhor. Pro mestrado. Pro concurso público. Pra estabilidade financeira. Pra rachar um apê com amigos. Pro doutorado. Pra casar. Pra quitar o automóvel. Pra um emprego ainda mais bem remunerado. Pra pós-graduação. Pra cuidar dos filhos. Pra morrer em paz.
É possível administrar com a escrita? Claro.
Só que você — você — percebe que não tem nada a ver com isso. E permanece. Só que nem todo o grupo ficou. Só um pedacinho e, mesmo mutilados, vocês até que foram longe. Conquistaram leitores. Leitores que também não permanecerão. Não por uma queda de qualidade do que você escreve. Vide o chamamento da vida supracitado.
Se na sua cidade corre um rio, você sentará na margem pra observá-lo. Se for litorânea, será com o mar. Se há algum rochedo elevado, é lá que você vai ficar olhando o sol deitar. Se você mora em prédio, vai se avarandar à noite vendo as luzes se apagarem. Não importa onde você esteja: é tudo deserto. E mesmo sabendo que até a dor é passageira, você vai procurar algum motivo pra que tudo fique doendo menos.
Você vai encontrar. E não permitirá — não mais, nunca mais — que as coisas simplesmente passem; que as pessoas saiam acenando. Até a próxima, valeu; a gente se esbarra! Nada nem ninguém passará mais por você como um sopro. Só a tempestade te interessa, menos que isso você não aceita. É este o preço pela permanência. Sim, é caro. E você já está enfiando até o pescoço nessa lama. Você não tem escolha. A saída é abrir um crediário.
                                                                                             Fred Caju

quarta-feira, julho 01, 2015

Poema banguelo
nem dentadura insiste
em obter e mastigar
com os dentes
resiste
abocanha e fere
tanto a si
como
a quem morde
baba
lambe
profere
como chuvisco
seu acorde

       Carlos Nascimento