segunda-feira, agosto 31, 2015

[de como Crhistian é o sol e você sempre
será um só]
um leão num-
a cai-
xa foi a
isca
que nenhum
ano
quis enfiar na
boca do
aquá
rio
onde tua cren-
ça na vi-
da ia se a-
cabando,
[não como á-
gua ou
como lá-
gr
ímã,
mas como al-
go mais seco que
um cora-
ção
que
não cabe mais
em si]
e foi
assim que
nunca foste a
Londres
muito menos soul-
beste
como chegar ao
quênia
mas estavas tão
perto de a-
prender um a-
braço
talvez você
voltas-
se
com-
o próprio sol,
sim.
seria mesmo
com-
o subir de um-
a manhã
bastava encontra-
lo, lá
no caminho,
um filho-
te de
leão
se houvesse
um
se os
homens deixas-
sem medo
es-
se caminho-
u es-
sem-
ar
ou esse o-
lhar de crian-
ça
cheia de juba
existir

          Jonatas Onofre

sábado, agosto 29, 2015

araçá-blur

i can't believe the news today:
teus satélites naturais 
sem cd de instalação
tua alma aprisionada
nos calabouços
de um pen drive
[oh no... this is
a nightmare...]
acabou chorare, billy
fodeu tudo, augusto
vão dizer que a gente
não sabe ficar odara
vão nos fazer
de tropicanóides
-- você já foi a
tatooine, nego? --
lá vem o skylab
descendo a ladeira
-- what a bunch
of daft punks ! --
hi hi johnny, hi hi alfredo
resistance is futile, my fellas
a revolução será
remasterizada
e esse modem
é pequeno demais
pra nossa gangue;
give it up, sweet michael
eles não ligam pra gente
o futuro é tamagotchi fabricado
na zona franca de manaus
[batteries not included]

               Camillo José
Confesso que já quis - muito - que o poema fosse uma cura. uma fuga. uma resposta. uma carícia. um orgasmo. um soco. um beijo. uma verdade. uma vingança. um presente. um sorriso. um abraço. uma lição. um desabafo. uma confissão. uma revelação. um sacrilégio. uma manhã. uma mão. uma cantiga. uma serpente. um escorpião. um grande lábio. uma fresta. uma festa. uma fossa. uma foda. uma mentira. um abcesso. um absurdo. um alto-falante. um pianíssimo. um ventríloco. um antídoto. um incêndio. uma formiga. uma lágrima. um ímã. uma semifusa. uma verdura. uma tesoura. um piano. um asilo. um parafuso. um sobrenome. uma janela. um casaco. uma estrada. uma razão. um...............................................................................Fui - muito - fraco ao desejar tudo isso e muito mais (do que não deveria). Sou louco por ainda supor que resta alguma coisa de pé - e que mereça? estar de pé - na superfície do mundo que inventei ao compasso de meus pulmões - já não tão puros - . A única ferocidade (mesma coisa que certeza) trincada nos dentes é de que nunca permitirei que alguém acredite em alguma vitória sobre todas essas vontades. Cada poema me vence por ser apenas poema. Nunca me serviu para nada além de sacudir o menino sonolento que habita algum quarto escuro em mim. Para desabafos - quase - me serve esse tipo de prosa (dramática? ridícula? pobre?). O poema não. O poema - pode - acontecer. casa?. pelas minhas mãos e - mesmo assim - me deixar trancado do lado de fora.
                                                                               Jonatas Onofre

sexta-feira, agosto 28, 2015

Manual de Roteiro

barato audiovisual, espa-
ço de montagem
ora
suponhamos uma
nebulosa- sem andaimes
ou escoras -
para um close do mito solar,
sequestre-o,
resquício de um deus,
faça ele cuspir uma
confissão:
seu pulmão avariado
no fundo do set
(você pensou que ninguém o
encontraria
ali?)
a cara revirada para as
pedras
e um princípio de falta de
ar
também não estavam no script
antes que a câmera se transfigure
no incêndio
que tua miopia desfigurou
não queira saber de
legenda
morda qualquer boca que
der sopa
transe sobre a terra sem
sal
e o sol na cabeça passará
longe
de ser rock,
depois subirás,
como um nome muito
mastigado
ou
uma mosca
forçando a entrada num
olho de peixe
ou
o cadáver do cineasta
envolto na tela, escura
e sagrada
dos créditos finais

         Jonatas Onofre

quinta-feira, agosto 27, 2015

god is an astronaut in a stupid man suit

foi um sonho de
verão numa praia:
a young girl with eyes
like the desert, quatro
cartelas de zolpidem.
esta paisagem híbrida é
má configuração de DNS,
erro bruto de paginação.
«you are sleeping, you
do not want to believe»
quero 01 magik whip
pra quebrar o gelo,
quero uma nightcall
to tell you how i feel
[they made me do it]
file:///c:/documents%20and
%20settings/all%20users/
documentos/meus%20vídeos/
shia_labeouf_just_do_it.wav
um hamster rói o elástico
da tua calcinha mais fofa;
filhotinhos de ziprasidona
almoçam o teu nariz azul.
o começo das vozes no teu rádio,
a vontade de comer rabanada.
— you've met with a terrible fate,
haven't you? sua danadinha.
— desculpe estranho eu voltei
mais puro do céu.
a lua inteira agora
é uma memória
torpe de tua pele
the killing moon
will come too soon
mil e uma noites de
suspense e hipotermia
toca o telefone,
chega um telegrama:
wake up, donnie
precisamos comprar
mais anestésicos.

               Camillo José

quarta-feira, agosto 26, 2015

teus olhos em longo disparo
convidam
reteso arco
íntimo
tentando alcançar
tanto silêncio

         Guilherme Delgado

terça-feira, agosto 25, 2015

[vamos a 91 quando dava gosto
nascer nesse país]
e os
jornalistas
cantavam árias de
jazz nos gramados de
nova york
porque não
por
que não
fazer parte dessa
banana - van
guardista na vitrine
do cinema são luís dos
lençóis maranhenses?
- as pessoas
caçavam um demônio
que funcionas-
se sem manuais e
baterias recar-
regáveis -
ajoelhados
à janela de uma
tv
quem ousaria querer
outra coisa?
(uma pena
eu ainda não
saber
que era possível se
excitar
com as mãos macias de
uma pergunta
retórica)
aqui podem
confessar as sau-
dade política-
mente incor-
retas:
cigarros em
horário nobre, ma-
milos no almoço
e um puta
que pariu antes
de encher a lan-
cheira
do seu fi-
lho
mais novo
[espero
que ninguém
se confunda com
a quantidade
de espelhos no
avesso
desse poema]
células cerebrais
estavam sempre em banho-
maria
e os narizes co-
çavam sem coca-
ína
ou cola?
besteirol del-
larte,
eu sei,
e a gente sem
entender
- mesmo ágora,
todo mundo metido
à besta -
tudo
tão divertido
passando direto so-
bre a hemor-
ragia de meu vocal-
bulário
eu aprenden-
do os
piores nomes e
esse mundo virando
uma espécie
estranhíssima de
fumaça
só me restou -
a etern-
idade - de
um dia de todos os
santos
e uma dívida pin-
gando até o
último go-
le
de petr-
óleo

         Jonatas Onofre

sábado, agosto 22, 2015

Não é o que eles chamam de rock and roll
ao norte
de babilônia
no sentamos,
certamente,
o lugar mais
fácil para esperar
o que nunca viria,
qualquer
degrau no infinito
onde as horas
rasgassem
o horizonte
e a risada lisér-
gica de um guitarrista
aposentado nos avisasse
que há duas
opções perto das
nossas têmporas:
foder-se
junto com
a catástrofe
do poema
ou
inventar
um novo hit
sampleável,
o que também
significa usar seringas
para encher os olhos
de histeria
ou
continuar
sendo a aberração
desse show,
"isso nunca
foi rock and roll"
você pode
dizer,
eu estaria
muito ocupa-
do em minha
busca pela
utopia
dos orgasmos múl-
tiplos na pele
de uma criatura
distraída,
tudo
o que pode
importar já está
precário demais
para ser real-
mente levado
em conta,
aproveitem a noite,
arranquem de suas cabeças
o pouco de lucidez que ainda
fede nos cabelos,
"isso ainda está longe de ser
rock and roll" você pode in-
sistir
acha mesmo
que vou dar atenção? estarei
com sono depois de mais uma vez
ter fracasso no meio da viagem,
pensarei
na próxima queda, e na próxima,
e na próxima, e
continuarei
achando tudo isso uma
piada muito mal rabiscada
na latrina de um
sanatório
enquanto
isso deixe
a música estourar
cada alvéolo
como se fosse
a fumaça que
você passou a
vida inteira
tentando não
tragar
tudo será
perfeitamente
entorpecente até
que o sino toque
e o último sóbrio
replique:
"goodnight,
now it's time
to go home"
se você ainda
tiver casa talvez
eu deseje boa sorte

         Jonatas Onofre

sexta-feira, agosto 21, 2015

Vasos da noite
A noite plantada no vácuo bebe adubos,
como teu sonho, não os meus,
de se manter contínuo repetir.
Bebe adubos
bem curtidos a cada dia,
no escuro mulo despupila.
(brande os brios do habitat
numa multiplicação selecionadíssima
de rir na terra o bicho mais ameno.)
A noite plantada no vácuo bebe adubos.
Rende forte mina, ulula assombros
ao pelo em pé da menina.
Sorte que pouco agoa as unidades
com bem abastecidos céus.
(surge semblante asco inagradável
pois que mesmo assim
de perceber melhora)
A noite bebe adubos plantada no vácuo
até que supere o vertigo, não ela,
Zen morta depois de pública,
e como surge, refestela
de arcos conduzindo a malha.
(falso vaso bem quebra
o chão que queda cai
conforto)
A noite bebe adubos plantada no vácuo.
Ao lado inverno da forma
disparada em galhos
fica vago na folha
o recheio que sobe o tronco.

                  Carlos Araújo

quinta-feira, agosto 20, 2015

cântico
é preciso retomar
o angustioso silêncio
de quem está matando
para morrer,
eu sempre segui assim,
barulho de ogivas
roçando-se
na ferrugem dos bolsos,
até o instante em que
teus olhos quase me
disseram: "sorria
como se não estivesse
asfixiando-se numa poça
de sangue"
e eu quase acreditei
e esqueci das bolhas que
minha respiração fazia
antes de qualquer vento
coagular nas minhas
extremidades
aí foi tempo de
perceber a tolice
de qualquer distância
e que fatalmente
nunca mais levantaria
com alguma firmeza
o rosto que desceu
procurando todas as
tuas bocas
o que mais pode
ser dito quando as
palavras
ainda estão por existir?
pode ser
engraçado
pensar que, mesmo assim,
minha língua
dobra de tamanho
quando
aceito as saudades
que ela sente
da tua
a cidade não
é a mesma urgência
e as coisas ávidas
estavam mentindo pra
mim
desde quando as garrafas
quedavam-se intactas
eu, dúvida
que se deixa mastigar
pelo segredo
me alcanço
na sórdida orquestração
de um sintoma
sim, posso não
passar de um armazém
fraturado
por uma doença
tropical
o ranger de dentes
é meu último recado
antes de apertar
o mecanismo do cadeado
espesso na garganta
antes -
pois não me
esqueço de ser
crueldade -
é preciso rasgar-te
com o angustioso cântico
de quem está vivendo
para nunca mais

            Jonatas Onofre

sábado, agosto 15, 2015

Sombra Sem Réstia

Pendo nesta folha.
Não diferente de uma esfera,
deslizo.

          Carlos Nascimento

sexta-feira, agosto 14, 2015

Tentei não olhar para os céus.

Era a cama desaguando-nos, o calor,
Ângela e eu percorrendo os lençóis.

                  Carlos Nascimento






quinta-feira, agosto 13, 2015

fale-me mais coisas sobre golden bridge
tudo o que faça minha boca encher de sangue.
tudo o que decalque meus dentes com esse mesmo sangue.
tudo o que atravesse a parte interna da língua dos outros com o gosto
do meu sangue.
sempre soube que seriamos capazes de sorrir no segundo seguinte ao salto.
sim. as ferragens da golden gate passam sua cor, talvez algum ferrugem,
no gosto que eu ainda sinto entre as glândulas salivares
não. eu não sei o que você tem a dizer sobre golden gate e o movimento dos
barcos esperando o barulho das águas engolindo ossos.
"havia turistas na ponte"
de fato, eu nunca olhei para alcatraz, não sei o sol que pode fazer ali,
desconheço a bruma que a câmera capturou e não me importo com nada mais
além desse gosto de sangue, os rastros que ficam na pia,
partindo de uns tons mais claros à ardência rubra dos coágulos que certamente
ainda escorrem pelos canos
ela era angelical,
diz a mãe de uma moça que partiu seu pescoço nas paredes do rio,
o que tenho eu com isso, mulher? com teus olhos claros, lavados por tantas
torrentes,
as roupas eram pretas, as cortinas
eram pretas
as paredes eram pretas
que tenho eu com a sindrome rock de teu filho, mulher? com teus cabelos
prateados pela espera
isso foi um pouco antes do natal,
não gostei de sua voz vovó, não devia tremer tanto o som, já devia ter parado
de chorar
ser esquizofrênico é como assistir tv,
outra moça de quem perdi o rosto e os possíveis gestos irritantes diz
e lá está the bridge, vermelha & mais vermelha ainda
eu não consigo ver alcatraz
daí por diante só descida, como se eu não soubesse, como se
eu não sorrisse
pier 39
antes de ir à alcatraz, chega de me apontar alcatraz e dizer
que é possível um lugar de sol perto daqui, tão perto do grito de alguns que
se arrependem ao estilhaçarem-se no fundo do abismo
isso não parece nada demais
nada demais?
quer que eu continue sorrindo ou que te ensine o melhor lugar para pular?
você tirava fotos deles
volte lá e
deixou a bolsa no chão e pulou
deixou a bolsa
jump
estou 100% convencido de que ... cometeu suicídio
quem?
fale-me mais coisas sobre golden bridge,
ele não pode olhar...
ele não conversa com você assim?
coragem de fazer aquilo, ahhh como é fascinante, tão fascinante que eu nem me
irrito mais com a voz daquela vovó, com esse gosto de sangue, ainda
com o som de pianos irônicos e uma voz estrangeira tocando no rádio do carro que
cruza a vermelha & cada vez mais vermelha ponte
... ele está lá
no fundo? nas rochas mais ao norte de onde nem sei?
perto de umas estruturas carcomidas, nunca mais vermelhas?
... ninguém sabe o que você está passando.
um barco apita por ali. procuram mais e mais e mais. um apito.
... é aí que alguém vai ter coragem.
pelo menos ele me agradeceu por dizer a verdade...
a verdade? no fundo do rio há gosto de sangue entre os dentes também?
será que todos eles fogem desse mesmo esvair-se, desse sabor?
porque ele falava quase fazendo piada.
eu sei.eu sei.
ele uivava, não? anos e anos e anos... ele uivava na parte mais fotografada pelo
homem na américa do norte
é uma festa essa ponte, será que é muito fundo? fundo?
tudo o que faça minha boca encher de sangue?
ei todos vocês aí embaixo, respondam!
você vai mesmo morrer assim, perguntaram a cada um de vocês.
mas eu pergunto pelo fundo de onde vem esse sangue
e vocês não podiam ficar assim
tão cheios de peixes, tão azulados e podres e sem nomes próprios na boca
vocês não atravessaram nada depois
e é a parte difícil pra mim,
todas a falas desse texto são reais, menos a minha
e nem adianta avisar,
san francisco ao fundo, amigos prestes a perder um amigo
mochilas de gente bem vestida,
longo caminhho até a água, sim e a mochila pode acelerar tudo
nós nunca o vimos pular
não teve nada a ver com você? sério? quem pode acreditar nisso?
tentou tudo o que podia?
vamos falar da névoa, quando a ponte some dentro dela e não se sabe quem some
na ponte
ela subiu com tanta facilidade
é isso, eles iam
uma cena perfeita,
só quero extinguir tudo o que faça minha boca encher de sangue
assim
sempre soube que seriamos capazes de sorrir no segundo seguinte ao salto
que ainda não é o nosso
sempre soube que não adiantaria nada
agora mesmo você escuta o som de mais um baque na água
vamos... sim! você pode! nós podemos sorrir!
e certamente outras bocas o farão quando for a nossa vez

                                                    Jonatas Onofre

sábado, agosto 08, 2015

Notas sobre tradução simultânea da chuva
habitar
o oxigênio
e a sobriedade 
sem luminárias
perto das
palmas das mãos,
soprar o cisco
para o olho do
anjo que vela meu
cárcere por
cima do ombro,
ver tudo virar carniça
dentro do sono
e não saber mais
dormir, só
apodrecer à
vista dos abutres
de deus,
(mas até que
isso pode ter
sua graça assim
como debaixo da
minha língua
camaleões fazem
cócegas
ao dilacerar
o nome que eu ia
inventar pra você,
enquanto despertava
de uma asfixia)
habitar
o barulho,
perceba como é
seco, do vento
sobre o barro que
sobrou nos telhados
apertar os dedos
do anjo até que
ele solte um gemido
ou um estalo e
morda meus cabelos
ou minhas orelhas
dizer ai, como se
fosse uma canção,
descobrir a ausência
de um revólver na
gaveta que talvez
nem possa existir
e lembrar de todos
os lugares onde
nunca se pisou
com os dois pés,
para então admitir,
sem nódoas nem
pigarro, que
cada segundo atraves-
sado foi um chance
de morrer
ou melhor, de
aprender a estar
calado enquanto
a chuva inventava
seus dialetos
e o mundo ressonava
mergulhado nos
mesmíssimos pecados

           Jonatas Onofre

sexta-feira, agosto 07, 2015

Não Basta uma piscina de colchões, 
para reparar meus sonhos. sem dese-
nhar mais um dilúvio, a medida do 
sono se espalha neste território some-
no, descaindo nas alturas de carbono, 
aparando as denúncias da matéria. Ma-
is que uma fração de tudo é necessário
para tal apreensão. Meus sonhos... 
Vivem Desertos de chão.

                    Carlos Nascimento


quinta-feira, agosto 06, 2015

SONETO 202 (AO HIPPIE) O flower power viu você crescer e seu cabelo, à mesma proporção. De São Francisco a Londres, a noção de paz e amor irá permanecer. Tune in, turn on, drop out tentou dizer: Viagem, sintonia, sacação. Na década da droga era o bordão, e o mundo viu o sonho acontecer. Mas, como todo sonho tem um fim, a roupa colorida desbotou, e agora você é pai dum outro teen: Careta, que nem curte rock'n'roll. Seu pé, porém, ainda tem pra mim um cheiro de amor livre under the toe...
                          Glauco Mattoso
                    

quarta-feira, agosto 05, 2015

Cirurgia em D menor
nunca
precisamos
tanto do grito 
como agora que os
prédios esquecem-se
como esqueletos e entre
os homens extinguem-se as
maneiras de um dizer claro
há o que se lamentar resta uma
mão enfiada no duodeno e uma pessoa
que não pode mais ser bela ou gostar de
jazz fusion um catálogo de posições sexuais
moscas evitando a decomposição entre os joelhos
paraplégicos e algo sagrando-se no mofo de um sofá lilás
nunca precisamos tanto do grito assim mesmo arrancado sem vírgulas
da última caixa torácica do mundo
                                             
                                Jonatas Onofre

terça-feira, agosto 04, 2015

Estranho
mar de pêlos
que sai da boca
e morre
Céu
de coberta fina
pune ao meio
desagradáveis nós.

        Débora Gil Pantaleão

segunda-feira, agosto 03, 2015

Radi‐ação

Perto da mesa
o televisor devora

com seu toque de arranha‐céu

os controles remotos o cinzeiro
as pequenas coisas jogadas 
pelo rádio na parede rugosa

Os pântanos na ponta da antena
as sombras e algumas outras 
semelhanças de íons 
contracapas de tablets 
e demais iguarias alimentam 
o peixe palhaço mediador 
das radiofrequências 

único morador deste ecrã. 

Ao seu lado

não param de repetir 
um badalar de orelhas

coisa equidistante
música eletromagnética

Nenhum televisor 
está livre de vizinhanças.

                   Carlos Nascimento

domingo, agosto 02, 2015

O desejo

é passar pelos touros,
adentrar o curral,
socorrer Cleonice
de sua bondade.
Me despir da vontade
ganhadora de prêmios.
Travar mais desafios
com o consumo à frente.
Arregar da batalha
e dormir na primeira calçada
que enxergar nesta rua.
Encarar a insônia,
abraçar o engano,
viver longe de ti.

          Carlos Nascimento

sábado, agosto 01, 2015

Tua Boca há de salivar mãos. Sim. Este
é teu castigo por não aparar a língua e
evitar uma solda-memórica  em tua 
garganta.  As unhas arranharão tuas 
costas, despirão o feto inquilino de
tua espinha dorsal. Sim. Atrofiar os 
olhos sob aquela luz infinda, não nos
fez esquecer o vinho mofado na mesa
de páscoa, nem perder o medo de ver
nossos filhos lacrimejarem nossas úvulas.

                          Carlos Nascimento