sábado, agosto 08, 2015

Notas sobre tradução simultânea da chuva
habitar
o oxigênio
e a sobriedade 
sem luminárias
perto das
palmas das mãos,
soprar o cisco
para o olho do
anjo que vela meu
cárcere por
cima do ombro,
ver tudo virar carniça
dentro do sono
e não saber mais
dormir, só
apodrecer à
vista dos abutres
de deus,
(mas até que
isso pode ter
sua graça assim
como debaixo da
minha língua
camaleões fazem
cócegas
ao dilacerar
o nome que eu ia
inventar pra você,
enquanto despertava
de uma asfixia)
habitar
o barulho,
perceba como é
seco, do vento
sobre o barro que
sobrou nos telhados
apertar os dedos
do anjo até que
ele solte um gemido
ou um estalo e
morda meus cabelos
ou minhas orelhas
dizer ai, como se
fosse uma canção,
descobrir a ausência
de um revólver na
gaveta que talvez
nem possa existir
e lembrar de todos
os lugares onde
nunca se pisou
com os dois pés,
para então admitir,
sem nódoas nem
pigarro, que
cada segundo atraves-
sado foi um chance
de morrer
ou melhor, de
aprender a estar
calado enquanto
a chuva inventava
seus dialetos
e o mundo ressonava
mergulhado nos
mesmíssimos pecados

           Jonatas Onofre

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