Notas sobre tradução simultânea da chuva
habitar
o oxigênio
e a sobriedade
sem luminárias
perto das
palmas das mãos,
o oxigênio
e a sobriedade
sem luminárias
perto das
palmas das mãos,
soprar o cisco
para o olho do
anjo que vela meu
cárcere por
cima do ombro,
para o olho do
anjo que vela meu
cárcere por
cima do ombro,
ver tudo virar carniça
dentro do sono
e não saber mais
dormir, só
apodrecer à
vista dos abutres
de deus,
dentro do sono
e não saber mais
dormir, só
apodrecer à
vista dos abutres
de deus,
(mas até que
isso pode ter
sua graça assim
como debaixo da
minha língua
camaleões fazem
cócegas
isso pode ter
sua graça assim
como debaixo da
minha língua
camaleões fazem
cócegas
ao dilacerar
o nome que eu ia
inventar pra você,
enquanto despertava
de uma asfixia)
o nome que eu ia
inventar pra você,
enquanto despertava
de uma asfixia)
habitar
o barulho,
perceba como é
seco, do vento
sobre o barro que
sobrou nos telhados
o barulho,
perceba como é
seco, do vento
sobre o barro que
sobrou nos telhados
apertar os dedos
do anjo até que
ele solte um gemido
ou um estalo e
morda meus cabelos
ou minhas orelhas
do anjo até que
ele solte um gemido
ou um estalo e
morda meus cabelos
ou minhas orelhas
dizer ai, como se
fosse uma canção,
descobrir a ausência
de um revólver na
gaveta que talvez
nem possa existir
fosse uma canção,
descobrir a ausência
de um revólver na
gaveta que talvez
nem possa existir
e lembrar de todos
os lugares onde
nunca se pisou
com os dois pés,
os lugares onde
nunca se pisou
com os dois pés,
para então admitir,
sem nódoas nem
pigarro, que
cada segundo atraves-
sado foi um chance
de morrer
sem nódoas nem
pigarro, que
cada segundo atraves-
sado foi um chance
de morrer
ou melhor, de
aprender a estar
calado enquanto
a chuva inventava
seus dialetos
e o mundo ressonava
mergulhado nos
mesmíssimos pecados
aprender a estar
calado enquanto
a chuva inventava
seus dialetos
e o mundo ressonava
mergulhado nos
mesmíssimos pecados
Jonatas Onofre
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