sábado, agosto 29, 2015

Confesso que já quis - muito - que o poema fosse uma cura. uma fuga. uma resposta. uma carícia. um orgasmo. um soco. um beijo. uma verdade. uma vingança. um presente. um sorriso. um abraço. uma lição. um desabafo. uma confissão. uma revelação. um sacrilégio. uma manhã. uma mão. uma cantiga. uma serpente. um escorpião. um grande lábio. uma fresta. uma festa. uma fossa. uma foda. uma mentira. um abcesso. um absurdo. um alto-falante. um pianíssimo. um ventríloco. um antídoto. um incêndio. uma formiga. uma lágrima. um ímã. uma semifusa. uma verdura. uma tesoura. um piano. um asilo. um parafuso. um sobrenome. uma janela. um casaco. uma estrada. uma razão. um...............................................................................Fui - muito - fraco ao desejar tudo isso e muito mais (do que não deveria). Sou louco por ainda supor que resta alguma coisa de pé - e que mereça? estar de pé - na superfície do mundo que inventei ao compasso de meus pulmões - já não tão puros - . A única ferocidade (mesma coisa que certeza) trincada nos dentes é de que nunca permitirei que alguém acredite em alguma vitória sobre todas essas vontades. Cada poema me vence por ser apenas poema. Nunca me serviu para nada além de sacudir o menino sonolento que habita algum quarto escuro em mim. Para desabafos - quase - me serve esse tipo de prosa (dramática? ridícula? pobre?). O poema não. O poema - pode - acontecer. casa?. pelas minhas mãos e - mesmo assim - me deixar trancado do lado de fora.
                                                                               Jonatas Onofre

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