terça-feira, novembro 10, 2015

samara


há um e-mail que me chega por engano
15:46 da última quarta-feira do mês
sei bem, a criança que morre no arame farpado
não sorri, ou sorri
se nunca tivesse
sorrido antes na vida
tudo sempre numa curva
as pontas dos dedos cansadas
de escavar a própria carne a procura
do mel, do sal da boca, da conserva, do gosto amargo da primavera
enquanto se corta e contorce, em meio ao capim
a coceira, ela pensa ainda
nas freiadas bruscas da bicicleta
pra levantar o pneu traseiro
e pensa no mar, no que é vasto
no passei de barco no próximo verão
enquanto há ar, há um próximo verão
e bate os pezinhos chatos no chão e grita, tentando
se livrar, a última palavra que aprendeu em
grupos de três, é tétrico tétrico tétrico
pausa, o verão, o sal, o mel, e a limpeza
da caixa de entrada



                         Guilherme Conde

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