quarta-feira, setembro 16, 2015

Água & Vinho
Desde cedo os utensílios me ensinaram
a maneira mais serena de ser cruel
Antes mesmo de você abrir o espaço que
nunca houve entre minhas costelas
Confesso que relutei enquanto guardava
minhas mãos em algum bolso falso
O melhor que se pode aprender neste resto
de mundo é como esquecer a piedade
Não o jeito mais discreto de esconder as
unhas cheias de terra e açafrão
Quando parece que é só a melodia leve de
um piano e quase queremos sorrir
É bem nesse instante que se deve procurar
alguém para purgar nossas faltas
Fazer de olhos abertos o que nunca se faz
nem com o devedor mais maldito
Estamos aqui para nos ferir pelos séculos
mesmo quando não for possível
Então todas as vezes que estivermos perto
de sarar passaremos brasas ali
Assim como não deixarei minha mania de rir
um pouco antes da quase morrer
Eu sou mesmo cruel para além de minha voz
e da pouca força nos joelhos
Algo passa pela cabeça como fumaça ou pó
não posso saber de uma coisa
Me vejo naquele copo de água tão frágil
que você despeja num mar vermelho
                                 Jonatas Onofre

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